Conheci Luiz Fernando Riesemberg numa comunidade de literatura fantástica do Orkut. Como discutíamos assuntos e temas de interesse mútuo, acabávamos estendendo de tal forma que parecia esgotar o assunto na comunidade. Por essa razão, continuávamos por e-mail. Foram tantas discussões que acabamos fazendo amizade. Ficamos sem conversar até recentemente (perdemos o e-mail um do outro), restabelecido o contato, tive uma surpresa: ele está lançando o livro GRAFIAS NOTURNAS. Conversei com ele sobre o livro e seus projetos, confira a entrevista e deixe seus comentários.
Mauricio Montenegro: Qual o sentimento de ver o Grafias Noturnas publicado?
L. F. Riesemberg: Acho que a ficha ainda não caiu muito bem, mas isso deve ser comum para um autor que publica seu primeiro livro solo. Na verdade eu já havia participado de algumas antologias, e é uma sensação indescritível ver algo seu em um livro. Acho que estou me sentindo quase como quando publiquei meu primeiro conto na antologia de vencedores de um concurso de Bragança Paulista, quando ganhei Menção Honrosa já na minha estreia, competindo com centenas de outros autores. Só que desta vez o meu nome está na capa do livro, e dentro dele só há contos meus. Pode parecer clichê, mas isso faz com que eu me sinta orgulhoso como um pai diante do filho que acabou de nascer.
Mauricio Montenegro: Como surgiu a idéia para o Grafias Noturnas?
L. F. Riesemberg: Grafias Noturnas é uma coletânea de contos que escrevi entre 2003 e 2009, onde incluí todos aqueles trabalhos que já se deram bem em concursos pelo país, e também outros ainda inéditos, que me agradaram. O título, Grafias Noturnas, veio do fato de eu só escrever tarde da noite, que é a hora em que tudo está em silêncio e ninguém me interrompe. Na verdade, desde a primeira vez que sentei para escrever uma história, a ideia já era a de publicar uma coletânea minha. Cheguei a ter mais de trinta contos para incluir no livro, mas para cortar os custos e para manter certa uniformidade de temas, optei por 21: acho que é um número razoável, com uma simbologia interessante.
Mauricio Montenegro: Como foi a seleção dos contos? Existe uma ordem para a leitura ou os contos foram escolhidos aleatoriamente?
L. F. Riesemberg: Como eu disse, procurei em primeiro lugar selecionar aqueles que já haviam sido premiados em concursos, ou selecionados para antologias. Depois escolhi aqueles que mais me agradavam, e nos quais eu via algum potencial. Mas escolher a ordem deles foi mais complicado do que parece. É que mesmo os livros de contos deveriam ser lidos na ordem em que o autor escolheu, pois sempre há uma razão para isto, e em Grafias Noturnas não é diferente. A primeira história é imprescindível que seja lida por primeiro, porque ela norteia todas as outras. O resto, de fato, até pode ser lido aleatoriamente, mas eu procurei fazer combinações agradáveis, como intercalar contos mais pesados com alguns mais leves, para não cansar o leitor. Eu diria que prefiro que seja lido na ordem, mas isso fica a critério do público.
Mauricio Montenegro: Como surgiu seu interesse pela literatura?
L. F. Riesemberg: Isso foi na infância, quando eu ainda lia a Biblioteca do Escoteiro Mirim (risos). Sempre fui precoce para a leitura, pelo menos em relação aos meus colegas. Por exemplo, aos 11 anos de idade, quando todos da minha turma faziam cara feia para os livros que tínhamos que ler nas aulas, eu lia por conta própria tudo do Sidney Sheldon que meu pai tinha em casa. Mais tarde, quando eu enjoei dos romances dele, descobri o Stephen King e minha maior alegria era ganhar um livro dele de presente. Assim, aos meus 15 anos, eu já havia lido algumas dezenas de obras, ao contrário de meus amigos que nunca haviam aberto um livro sequer. Essa história se desenrola naturalmente até os dias de hoje: cheguei a cursar a faculdade de Letras apenas pelo fato de amar a Literatura, e estou sempre à procura de bons autores que não conheço. Começar a escrever foi uma simples consequência dessa minha relação de amor com os livros.
Mauricio Montenegro: A sinopse do Grafias Noturnas remete-nos a Ray Bradbury, podemos dizer que ele é sua fonte de inspiração? Quais autores que te inspiram?
L. F. Riesemberg: Puxa, fico até emocionado em ouvir uma comparação destas. Sim, o “Tio Brad” (como eu e a Giulia Moon carinhosamente o chamamos) é minha maior inspiração, e foi somente depois que conheci a obra dele que comecei a escrever. Seus contos são mágicos, porque fazem o fantástico parecer corriqueiro e vice-versa. Por exemplo, seu livro As Crônicas Marcianas narra a ocupação de Marte pelos humanos, e ele faz aquilo parecer tudo tão natural! Por outro lado, Dandelion Wine descreve o verão de um menino de 12 anos em uma cidadezinha americana dos anos 20, mas sua escrita faz aquelas cenas parecerem algo de outro mundo: os gramados verdes das casas surgem como um planeta desconhecido habitado por uma fauna e uma flora admiráveis! É, eu sou mesmo apaixonado por esse autor, mas ele não é o único a me inspirar, não. Também sou grande fã de Roald Dahl, que é o autor de obras infantis, tais como A Fantástica Fábrica de Chocolates, mas que também escreveu muitos contos adultos, alguns macabros e irônicos, e outros bem sensuais (leia Beijo, o único dele lançado no Brasil, e você entenderá o que digo). E não posso esquecer a influência de Richard Matheson, que escreveu Eu Sou a Lenda e Em Algum Lugar do Passado, nem de J.G. Ballard, cujo pirado romance Crash foi influência direta para eu criar um conto chamado Racha, que trata dessa relação entre homens e máquinas, onde já nem sabemos mais onde termina um e começa o outro.
Mauricio Montenegro: Como tem sido a recepção do livro pelo público?
L. F. Riesemberg: Para ser bem sincero, enquanto respondo essas perguntas ainda nem toquei na versão impressa do livro, que deve chegar até mim em breve, pelo correio. Mas para ser ainda mais sincero, eu não estou esperando um sucesso imediato. Ficarei feliz se souber que uma única pessoa o leu, e ficarei ainda mais contente se este leitor disser que gostou. Na verdade, como eu disse antes, alguns dos contos já foram bem recebidos em concursos, e acredito que fiz uma seleção legal. Assim, mesmo que eu ainda não tenha conseguido um feedback, acho que o público não irá ficar decepcionado.
Mauricio Montenegro: Como você vê o momento que passa a literatura fantástica no Brasil?
L. F. Riesemberg: Está muito bom. Veja as listas dos dez livros de ficção mais vendidos nos últimos anos: só dá obras sobre vampiros, bruxos ou afins. Com relação à produção nacional, noto que há muita gente boa produzindo e aos poucos esses autores vão conseguindo o merecido espaço.
Mauricio Montenegro: Há outros projetos em andamento?
L. F. Riesemberg: Sim, muitos. Para falar a verdade, considero Grafias Noturnas um assunto já encerrado, mesmo que eu mal tenha iniciado sua campanha de divulgação, e já penso em pelos menos três projetos futuros. Um deles, provavelmente o próximo, tem a ver com meus conhecimentos sobre Espiritismo, e será um romance voltado ao público adolescente. Tenho vontade também de lançar uma segunda coletânea de contos, desta vez misturando elementos fantásticos com algo mais erótico. E como eu pareço ter uma obsessão por autores que se dividem entre a literatura adulta e a infantil, eu sonho em produzir algo destinado às crianças. Mas é claro, sem nunca deixar de fazer literatura fantástica, que é minha paixão.
Mauricio Montenegro: L. F. Riesemberg, muito obrigado pela entrevista. Gostaria de comentar algo mais?
L. F. Riesemberg: Sou eu que agradeço pelo interesse pelo meu singelo trabalho e pela oportunidade de trocarmos mais estas informações a respeito de literatura. Também gostaria de lhe desejar sucesso em sua carreira, e dizer que mal posso esperar pelo lançamento de Poe 200 Anos, a antologia que você está organizando com o Ademir Pascale. Muito obrigado. Um abraço!