terça-feira, 29 de setembro de 2009

ENTREVISTA L. F. RIESEMBERG




Conheci Luiz Fernando Riesemberg numa comunidade de literatura fantástica do Orkut. Como discutíamos assuntos e temas de interesse mútuo, acabávamos estendendo de tal forma que parecia esgotar o assunto na comunidade. Por essa razão, continuávamos por e-mail. Foram tantas discussões que acabamos fazendo amizade. Ficamos sem conversar até recentemente (perdemos o e-mail um do outro), restabelecido o contato, tive uma surpresa: ele está lançando o livro GRAFIAS NOTURNAS. Conversei com ele sobre o livro e seus projetos, confira a entrevista e deixe seus comentários.

Mauricio Montenegro: Qual o sentimento de ver o Grafias Noturnas publicado?

L. F. Riesemberg: Acho que a ficha ainda não caiu muito bem, mas isso deve ser comum para um autor que publica seu primeiro livro solo. Na verdade eu já havia participado de algumas antologias, e é uma sensação indescritível ver algo seu em um livro. Acho que estou me sentindo quase como quando publiquei meu primeiro conto na antologia de vencedores de um concurso de Bragança Paulista, quando ganhei Menção Honrosa já na minha estreia, competindo com centenas de outros autores. Só que desta vez o meu nome está na capa do livro, e dentro dele só há contos meus. Pode parecer clichê, mas isso faz com que eu me sinta orgulhoso como um pai diante do filho que acabou de nascer.

Mauricio Montenegro: Como surgiu a idéia para o Grafias Noturnas?

L. F. Riesemberg: Grafias Noturnas é uma coletânea de contos que escrevi entre 2003 e 2009, onde incluí todos aqueles trabalhos que já se deram bem em concursos pelo país, e também outros ainda inéditos, que me agradaram. O título, Grafias Noturnas, veio do fato de eu só escrever tarde da noite, que é a hora em que tudo está em silêncio e ninguém me interrompe. Na verdade, desde a primeira vez que sentei para escrever uma história, a ideia já era a de publicar uma coletânea minha. Cheguei a ter mais de trinta contos para incluir no livro, mas para cortar os custos e para manter certa uniformidade de temas, optei por 21: acho que é um número razoável, com uma simbologia interessante.


Mauricio Montenegro: Como foi a seleção dos contos? Existe uma ordem para a leitura ou os contos foram escolhidos aleatoriamente?

L. F. Riesemberg: Como eu disse, procurei em primeiro lugar selecionar aqueles que já haviam sido premiados em concursos, ou selecionados para antologias. Depois escolhi aqueles que mais me agradavam, e nos quais eu via algum potencial. Mas escolher a ordem deles foi mais complicado do que parece. É que mesmo os livros de contos deveriam ser lidos na ordem em que o autor escolheu, pois sempre há uma razão para isto, e em Grafias Noturnas não é diferente. A primeira história é imprescindível que seja lida por primeiro, porque ela norteia todas as outras. O resto, de fato, até pode ser lido aleatoriamente, mas eu procurei fazer combinações agradáveis, como intercalar contos mais pesados com alguns mais leves, para não cansar o leitor. Eu diria que prefiro que seja lido na ordem, mas isso fica a critério do público.

Mauricio Montenegro: Como surgiu seu interesse pela literatura?

L. F. Riesemberg: Isso foi na infância, quando eu ainda lia a Biblioteca do Escoteiro Mirim (risos). Sempre fui precoce para a leitura, pelo menos em relação aos meus colegas. Por exemplo, aos 11 anos de idade, quando todos da minha turma faziam cara feia para os livros que tínhamos que ler nas aulas, eu lia por conta própria tudo do Sidney Sheldon que meu pai tinha em casa. Mais tarde, quando eu enjoei dos romances dele, descobri o Stephen King e minha maior alegria era ganhar um livro dele de presente. Assim, aos meus 15 anos, eu já havia lido algumas dezenas de obras, ao contrário de meus amigos que nunca haviam aberto um livro sequer. Essa história se desenrola naturalmente até os dias de hoje: cheguei a cursar a faculdade de Letras apenas pelo fato de amar a Literatura, e estou sempre à procura de bons autores que não conheço. Começar a escrever foi uma simples consequência dessa minha relação de amor com os livros.

Mauricio Montenegro: A sinopse do Grafias Noturnas remete-nos a Ray Bradbury, podemos dizer que ele é sua fonte de inspiração? Quais autores que te inspiram?

L. F. Riesemberg: Puxa, fico até emocionado em ouvir uma comparação destas. Sim, o “Tio Brad” (como eu e a Giulia Moon carinhosamente o chamamos) é minha maior inspiração, e foi somente depois que conheci a obra dele que comecei a escrever. Seus contos são mágicos, porque fazem o fantástico parecer corriqueiro e vice-versa. Por exemplo, seu livro As Crônicas Marcianas narra a ocupação de Marte pelos humanos, e ele faz aquilo parecer tudo tão natural! Por outro lado, Dandelion Wine descreve o verão de um menino de 12 anos em uma cidadezinha americana dos anos 20, mas sua escrita faz aquelas cenas parecerem algo de outro mundo: os gramados verdes das casas surgem como um planeta desconhecido habitado por uma fauna e uma flora admiráveis! É, eu sou mesmo apaixonado por esse autor, mas ele não é o único a me inspirar, não. Também sou grande fã de Roald Dahl, que é o autor de obras infantis, tais como A Fantástica Fábrica de Chocolates, mas que também escreveu muitos contos adultos, alguns macabros e irônicos, e outros bem sensuais (leia Beijo, o único dele lançado no Brasil, e você entenderá o que digo). E não posso esquecer a influência de Richard Matheson, que escreveu Eu Sou a Lenda e Em Algum Lugar do Passado, nem de J.G. Ballard, cujo pirado romance Crash foi influência direta para eu criar um conto chamado Racha, que trata dessa relação entre homens e máquinas, onde já nem sabemos mais onde termina um e começa o outro.

Mauricio Montenegro: Como tem sido a recepção do livro pelo público?

L. F. Riesemberg: Para ser bem sincero, enquanto respondo essas perguntas ainda nem toquei na versão impressa do livro, que deve chegar até mim em breve, pelo correio. Mas para ser ainda mais sincero, eu não estou esperando um sucesso imediato. Ficarei feliz se souber que uma única pessoa o leu, e ficarei ainda mais contente se este leitor disser que gostou. Na verdade, como eu disse antes, alguns dos contos já foram bem recebidos em concursos, e acredito que fiz uma seleção legal. Assim, mesmo que eu ainda não tenha conseguido um feedback, acho que o público não irá ficar decepcionado.

Mauricio Montenegro: Como você vê o momento que passa a literatura fantástica no Brasil?

L. F. Riesemberg: Está muito bom. Veja as listas dos dez livros de ficção mais vendidos nos últimos anos: só dá obras sobre vampiros, bruxos ou afins. Com relação à produção nacional, noto que há muita gente boa produzindo e aos poucos esses autores vão conseguindo o merecido espaço.

Mauricio Montenegro: Há outros projetos em andamento?

L. F. Riesemberg: Sim, muitos. Para falar a verdade, considero Grafias Noturnas um assunto já encerrado, mesmo que eu mal tenha iniciado sua campanha de divulgação, e já penso em pelos menos três projetos futuros. Um deles, provavelmente o próximo, tem a ver com meus conhecimentos sobre Espiritismo, e será um romance voltado ao público adolescente. Tenho vontade também de lançar uma segunda coletânea de contos, desta vez misturando elementos fantásticos com algo mais erótico. E como eu pareço ter uma obsessão por autores que se dividem entre a literatura adulta e a infantil, eu sonho em produzir algo destinado às crianças. Mas é claro, sem nunca deixar de fazer literatura fantástica, que é minha paixão.

Mauricio Montenegro: L. F. Riesemberg, muito obrigado pela entrevista. Gostaria de comentar algo mais?

L. F. Riesemberg: Sou eu que agradeço pelo interesse pelo meu singelo trabalho e pela oportunidade de trocarmos mais estas informações a respeito de literatura. Também gostaria de lhe desejar sucesso em sua carreira, e dizer que mal posso esperar pelo lançamento de Poe 200 Anos, a antologia que você está organizando com o Ademir Pascale. Muito obrigado. Um abraço!







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sábado, 19 de setembro de 2009

STEPHEN KING NOS 200 ANOS DE POE




Acho que você estava esperando algo como STEPHEN KING NO POE 200 ANOS, não é mesmo?
Mas isso seria pedir demais. Então falarei das influências e da participação de King no bicentenário de Poe.


















Stephen King afirmou em uma entrevista recente que Richard Matheson foi o autor que mais influenciou seu estilo literário. Porém, é comum encontrar em suas histórias personagens e situações que fazem referência a histórias e personagens de Edgar Allan Poe.
No ensaio para o livro In the Shadow of the Master de Michael Connelly que reúne contos clássicos de Poe, King comenta que um dos contos que mais o impressionou em toda sua vida foi O Coração Delator. Já
no livro O Cemitério, facilmente imaginamos a semelhança do gato da família Creed com o gato do conto O Gato Preto. Particularmente, Janela Secreta me faz lembrar o conto Willian Wilson. Ok, pode não ter nada a ver, mas me faz lembrar.
No livro A Casa Negra, escrito em parceria com Peter Straub, há um corvo que invade uma residência e a moradora faz vários comentários ao poema O Corvo. O poema chega a ser adaptado a situação vivida pela personagem.
Mas o conto que King declaradamente homenageia Edgar Allan Poe chama-se O Cadillac de Dolan, do livro Pesadelo e Paisagens Noturnas. O Conto é uma versão atualizada de O Barril de Amontillado (1946). No conto de Poe Montresor se vinga de Fortunato enterrando-o vivo em uma adega. No conto de King Robinson se vinga de Dolan enterrando-o com Cadillac e tudo numa auto-estrada. Num conto o que move a vingança são as inúmeras injúrias suportadas por Montresor. No outro, o assassinato da esposa de Robinson. Em O Barril de Amontillado há o grito desesperado: “Pelo amor de Deus, Montresor!”. Em O Cadillac de Dolan há o grito: “Pelo amor de Deus, Robinson!”.
A adaptação cinematográfica de O Cadillac de Dolan - Sede de Vingança - ficou parada desde 2001 e estreou nos Estados Unidos esse ano. O elenco trás Wes Bentley, Emmanuelle Vaugier e Christian Slater, e apesar de ser um filme curto, é uma das melhores adaptações dos contos de Stephen King.











terça-feira, 15 de setembro de 2009

TerrorZine Comemorativo n° 13‏



Está no ar a edição de setembro da revista eletrônica TerrorZine.


A edição reúne 44 excelentes minicontos, dicas de livros e entrevistas com Regina Drummond e Sérgio Pereira Couto. Além da participação especial dos escritores: Miguel Carqueija, Lord A, Rosana Rios, Regina Drummond, Nazarethe Fonseca, Martha Argel, Giulia Moon, Nelson Magrini, James Andrade, Eric Novello, Rober Pinheiro, Juliano Sasseron, J.P. Balbino, Iam Godoy, R. Raven, M.D. Amado, Adriano Siqueira e muitos outros.

Participo com o miniconto Desgraça Alheia .

Faça já o download do seu:
http://www.cranik.com/terrorzine13.pdf

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Influencia de Edgar Allan Poe na Musica

Em algumas ocasiões ao ler um conto ou livro temos a impressão que aquela obra poderia tornar-se um bom filme ou uma peça de teatro, mas raramente poderíamos imaginar que poderia tornar-se uma música, certo? Errado. No final dos anos 70 e início dos anos 80 um grupo inglês realizou a primazia de transformar contos de autores como Philip K. Dick, Isaac Asimov e ninguém mais ninguém menos que Edgar Allan Poe em música. E não qualquer música, música da melhor qualidade que foi elevada a condição de arte.
A banda The Alan Parson Project foi fundado por Alan Parsons e Eric Woolfson surgiu em 1976 e trazia traços comuns com o trabalho do grupo Pink Floyd no álbum The Dark Side of The Moon de 1973 pois nesse album Alan Parsons participou como engenheiro de som.
Seus álbuns eram conceituais com uma introdução instrumental na primeira canção, uma peça instrumental no meio do segundo lado do LP e terminavam com uma canção calma, triste e poderosa.
Woolfson vocalizava a maioria das canções, sobretudo as lentas e tristes. As demais, teve grande variedade de vocalistas convidados para interpretar os temas.
Parsons resolve incorporar logo no primeiro trabalho a obra do escritor Edgar Allan Poe com o álbum Tales of Mystery and Imagination. Embora utilizando elementos pop progressivos a obra deve ser considerada sinfônica e orquestral e foi aclamada pela crítica como a melhor e insuperável em toda sua carreira.
Possui uma narrativa de Orson Wells em A Dream Within A Dream além de Cris Farlowe do Atomic na faixa The Tell Tale Hart . O tema central da obra é The Raven, há também The System Of Doctor Tarr and Professor Fether, o ponto culminate é a orquestral e erudita The Fall of the House of Usher, o trabalho encerra de forma pop com The Cask of Amontillado.


Uma das partes internas do álbum


A Dream within a Dream:
http://www.youtube.com/watch?v=VZyNKrYo9I4

Tales of mystery and imagination:
http://www.youtube.com/watch?v=58h6YIJxrgg&feature=PlayList&p=626D8B35704DEB91&playnext=1&playnext_from=PL&index=27

Cask of Amontillado:
http://www.youtube.com/watch?v=LBC7Rown13Q

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

CLIVE BARKER E OS NOVOS ASSASSINATOS NA RUA MORGUE

                                                                         


A maioria das reportagens sobre o escritor britânico Clive Barker começa com a frase de Stephen King que o projetou definitivamente no cenário da literatura de terror. Então decidi que não irei citar a frase.


Barker nasceu em Liverpool em 1952, formado em filosofia e letras é escritor , realizador de cinema, pintor e dramaturgo. As coincidências com outros autores de terror começaram cedo, nasceu na mesma cidade Ramsey Campbell e morou na mesma rua onde Peter Straub escreveu Ghost Story (Os Mortos-vivos). No início da década de 80 após ler Dark Forces (uma compilação de Kirby McCauley reunindo talentos como Ray Bradbury, Ramsey Campbell, Joyce Carol Oates, Dennis, Etchinson, etc.), resolveu que tentaria escrever história de terror. As primeiras cinco histórias foram aceitas pela editora inglesa Sphere Books, surgia então Os Livros de Sangue. Mas foi somente quando Stephen King elogiou a coletânea e seus livros lançados nos Estados Unidos que sua carreira decolou.
O trabalho de Barker causa desconforto e tensão além de ser permeado de humor negro e sabedoria. Apesar de declarar que não é bem afinado com Poe revela que nele encontrou a fonte inicial de inspiração e resolve homenageá-lo com o conto que encerra o volume II dos Livros de Sangue “Os Novos Assassinatos na Rua Morgue”. Mas se você pretende ler o referido conto de Barker, sugiro que leia primeiro o conto de Poe porque Barker resolveu revelar o final do conto. È uma grande homenagem que deve ser lida como uma comédia macabra.